Essa pode ser a melhor melodia para definir Rafael Ferraz Carpi, 35 anos, tetraplégico há pouco mais de oito anos, e que atualmente, trabalha como jornalista inclusivo. Rafael adquiriu a tetraplegia devido há um acidente domiciliar, uma queda do terceiro andar que mudou sua vida “não me lembro como aconteceu, e ninguém viu. Mas caí de uma escada grande, em caracol, de dentro da casa de uma ex-namorada, em 21 de abril de 2011.” Conta.
O acidente
Devido à queda de uma altura de 9,5 metros, ele teve fratura exposta do fêmur, síndrome do impacto no ombro direito, trauma crânio-encefálico, e fratura da 5ª vértebra cervical com lesão incompleta da medula.
A partir disso, Rafael teve que se adaptar a uma nova vida “além das questões de imobilidade e falta de movimentos decorrentes da tetraplegia, sinto muitas dores 24 horas por dia. São dores musculares, que pioram ao longo do dia, nos músculos auxiliares que uso para sustentar o tronco; dores na articulação do ombro que tive uma capsulite adesiva (famoso ombro congelado); e dor neuropática no braço, devido ao rompimento e dos nervos”. Explica.
Para tentar amenizar as dores ele tem uma rotina ligada a exercícios físicos, apesar de essas atividades serem bastante cansativas e difíceis “faço fisioterapia, hidroterapia e equoterapia, desde então. Também já fiz pilates, passei por duas internações na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, em São Paulo (SP), e exercícios em casa além pedalar uma handbike”. Relata.
A comunicação e a música
Para suportar as dores e a nova vida, além da vontade de viver, Rafael tem duas paixões, o jornalismo e a música. O amor pela escrita, história e literatura fez com que ele ingressasse no curso de Comunicação Social “prestei vestibular para diversos cursos, entre eles Rádio e TV. Mas não passei e fiz Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.” A partir disso, ele começou a ter diferentes experiências dentro da comunicação desde produção até fotografia “comecei a trabalhar numa produtora como repórter de rua para uma rádio AM. Depois trabalhei no principal jornal da minha cidade, Itu (SP). Me formei em 2006 e zarpei para trabalhar como fotógrafo em um navio de cruzeiros – América Latina e Europa. Também tive outros trabalhos como executivo de contas nas revistas Cães & Gatos, e Feed & Food. E trabalhei em outro navio, como fotógrafo, e outro jornal em minha cidade.” Conta
Depois do acidente Rafael passou a trabalhar como Assessor de Imprensa, produtor de conteúdo e redação. Atualmente ele desenvolve essas atividades na modalidade home office, como profissional liberal.
Além do jornalismo, a música sempre teve presença importante na vida de Rafael “a música sempre foi muito importante e presente. Sou filho de músico. Na minha materna e paterna há músicos. Então, logo cedo tive contato com teclado e violão. Tanto que meu primeiro “emprego”, ainda adolescente foi como professor de violão e guitarra.” Lembra. Também dedicou parte da sua vida (dos 15 aos 27) a bandas de Rock, Jazz, Blues e MPB, além de cantar.
Comunicação e inclusão
A luta pela inclusão deve ser diária e continua, e dentro da comunicação não é diferente, pois a ela é fundamental para o processo de crescimento humano. Mesmo assim, ainda pouco se dá visibilidade a causa da pessoa com deficiência e a inclusão “a inclusão é escassa em todas as áreas da sociedade, no mercado de trabalho e na mídia. E a comunicação me pare e ser um dos principais caminhos para levar informações sobre acessibilidade e inclusão a sociedade.” Comenta.
Para Rafael, é preciso que a mídia conheça mais o universo da pessoa com deficiência e da inclusão “apesar da mídia ser celetista e usar a inclusão de minorias de forma pejorativa – desde pessoas com deficiência, a negros, obesos e pessoas gays – é justamente a mídia que está começando a ser reflexo da sociedade e já dá seus primeiros passos nas tentativas de esclarecer a necessidade de uma vida inclusiva.” Explica.
Sobre o cenário da comunicação e inclusão ele diz que estamos no caminho certo “apesar de estarmos só nos primeiros passos de uma longa caminhada, se compararmos com outros países desenvolvidos. Então prefiro ser positivo e fazer minha parte, atuando como ativista dos nossos direitos.” Afirma.
Jornalista Inclusivo
Dessa vontade de unir jornalismo e inclusão nasceu o “Jornalista Inclusivo”, espaço no qual Rafael usa o jornalismo para trabalhar a inclusão “a ideia de trabalhar o jornalismo e a inclusão é isso, atuar ativamente com aquilo que posso fazer. Todo mundo pode fazer um pouco, seja em relação a movimentos sociais, políticos ou em prol do meio ambiente.” Conta.
Para ele unir a comunicação e a inclusão foi a possibilidade de unir seu momento de vida e sua paixão pela comunicação “trabalhar a comunicação social de forma inclusiva, no meu caso, é unir o útil ao (des)agradável (risos), minha formação de jornalista com minha condição física como pessoa com deficiência.” Explica.
Segundo ele o objetivo do “Jornalista Inclusivo” é incluir, informar e compartilhar “como “Jornalista Inclusivo”, a ideia é promover a inclusão por meio da acessibilidade através da informação. Muita gente que sabe dos seus direitos, não sabe como reivindica-los ou acessá-los, e muitos outros nem fazem ideia dos direitos que têm. Eu mesmo sei muito pouco. Mas aquilo que sei, tudo que aprendo, e tento descobrir, não guardo comigo, nem pra mim. Eu jogo no mundo, grito aos quatro cantos, e nada melhor que a comunicação social na internet, no marketing digital e nas redes sociais para fazer minha mensagem chegar a quem precisa ou quer me ouvir. Finaliza.
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