A vida de uma pessoa com deficiência é baseada nos sentidos, é preciso sentir para conhecer, isso se aplica com muita força para as pessoas cegas, como é o caso da modelo Josiane França de 41 anos, residente em Porto Alegre. Josiane ficou cega durante a gravidez do seu filho quando contraiu meningite, e devido a medicação, ela foi perdendo a visão aos poucos até ficar cega.
Na época Josiane morava com o marido em Capão da Canoa, onde tinham uma loja, devido a perda da visão fecharam a loja e voltaram para Porto Alegre, dois anos depois o marido acabou abandonando "Ele desistiu de mim devido a cegueira" conta. Josiane tem um casal de filhos, uma menina de 18 anos e um menino de 10.
"Ele desistiu de mim devido a cegueira"
Josiane é militante de vários movimentos ligados a mulher com deficiência, como o grupo Inclusivass, Movimento Brasileiro das Mulheres Cegas e com Baixa Visão, no Coletivo Feminino Plural, no Fórum Municipal das Mulheres de Porto Alegre e na Comissão de Saúde da Pessoa com Deficiência. Além disso, Josiane é modelo.
Como modelo um de seus trabalhos com maior destaque foi o editorial "Obstáculos" para o blog Um Pouco de Moda, do Grupo RBS. Esse editorial serve como base para divulgação do trabalho dela como modelo. Segundo Josiane as maiores dificuldades são vencer o medo e o preconceito, e isso vale tanto para a carreira de modelo quanto para o dia a dia "Os fotógrafos tem muita dúvida, por exemplo como fotografar uma mulher cega?" comenta.
"Os fotógrafos tem muita dúvida, por exemplo como fotografar uma mulher cega?"
Mas, nem só de dificuldades são feitos os dias de uma pessoa cega, Josiane conta que tem uma vida como qualquer outra pessoa, viaja, trabalha e está noiva e seu futuro marido também é cego. Juntos os dois já viajaram para vários lugares "já fomos até para o Rio de Janeiro". Para ela os obstáculos sociais são uma das principais barreiras que somadas ao capacitismo, atrapalham na independência da pessoa com deficiência "Às vezes não da para sair na rua que aparece alguém e pega pelo braço querendo ajudar, a ajuda é importante, mas se precisar eu mesmo posso pedir". Para ela a presença das pessoas com deficiência na sociedade contribui para vencer as barreiras e promover a inclusão "Estamos capacitando as pessoas para lidar com a gente".
Josiane lida muito bem com a questão da deficiência "diariamente tenho um aprendizado para driblar as dificuldades". Seu trabalho também já teve destaque no Carnaval de Porto Alegre e como Miss RS Model Inclusão Social. Segundo ela a cegueira foi uma consequência de fatos da vida "Não rezo para Deus para voltar a enxergar" ela prefere ver a vida de outra forma "posso estar no escuro, mas minha vida é colorida".
Sobre a continuidade da carreira de modelo Josiane diz estar aberta a convites, mas ela salienta a necessidade de driblar o preconceito em relação a sua deficiência, mesmo que na passarela ou em seções de fotos o fato de ser cega é quase imperceptível. A mensagem principal deixada pela história de Josiane é que independente da deficiência ou das consequências da vida, o importante é buscar sua felicidade.
Arquivo: Fotos/Divulgação: Jean Pierre Kruze - Produção para o editorial "Obstáculos" do Blog Um Pouco de Moda.
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