Exercício rápido: Quando vocês pensam em cadeirante (se é que já pensaram um dia), qual a primeira que vocês associam? Bom, como obviamente eu não posso ouvir a resposta de vocês, responderei. Mas responderei com a convicção suficiente para colocar um fio da minha barba em aposta: Certamente a palavra que muitos pensaram foi “Acessibilidade”.
Acho engraçado como cadeirante e acessibilidade estão interligados na mente das pessoas como dois irmãos siameses. Obviamente e literalmente um não caminha sem o outro e parte dessa associação do senso comum tem total sentido.
O usuário de cadeira de rodas encontrará muito mais dificuldades de se locomover e colocar a cara no mundo lá fora, se não encontrar ambientes acessíveis. Assim sendo, rampas, elevadores, banheiros adaptados, guias rebaixadas são de suma importância, não há como negar. Porém, é necessário fazer uma observação vital: NEM TUDO É RAMPA!
A razão para que digo isso em letras maiúsculas é bem simples: Para as autoridades, população e o mais grave, pra os próprios cadeirantes, a pauta da classe se resume a acessibilidade.
Ainda bem que a acessibilidade virou algo obrigatório e respeitado. A maioria dos lugares possui adaptações no mínimo básicas o que permite que o cadeirante sai de casa tranquila. Na cidade de São Paulo, a situação não é ideal, mas de modo geral um cadeirante consegue sair e viver bem até.
Mas de que adianta ter acessibilidades nos locais, se cadeirantes não frequentam esses lugares? Se não existem cadeirantes trabalhando nos locais? Se os poucos cadeirantes que se atrevem a sair, são olhados e descriminados de forma velada? Bom, mas na cabeça das pessoas, todos estes problemas se resolvem com rampa.
Quando alguma autoridade cadeirante, ou algum representante em prol dos cadeirantes (não necessariamente um cadeirante) faz algum pronunciamento ou entrevista sobre a pauta. Qual o primeiro e quiçá, único assunto? Acessibilidade “Temos que lutar para adaptar os lugares, rampas” e por aí vai...”.
Parece que o cadeirante não precisa de emprego, saúde, educação e qualquer outro fator para ter uma vida digna, ela precisa de apenas de rampas, ou talvez, uma rampa na vida do cadeirante, já garanta sua dignidade, sei lá...
Mas quando se conversa com um “cadeirante civil” e em dado perguntasse suas queixas, quase certamente ele vai reclamar da falta de acessibilidade aqui e ali, que falta rampas, transporte adaptado, etc... Ou seja, o próprio cadeirante se convence ou foi convencido pelo senso comum eminente que ela precisa apenas de rampas e guias rebaixadas para viver de forma digna. É como se o cadeirante comesse, bebesse, pagasse as contas, se divertisse e transasse com rampas.
É como se existisse uma campanha nacional não oficial “Quando ver um cadeirante, dê uma rampa pra ele que ele ficará feliz.”
Por isso, apesar de cadeirante e de obviamente eu necessitar de adaptações, eu peguei preguiça e até digamos, raiva do tema acessibilidade. Poxa, a minha pauta não se resume a isso e eu preciso e quero muito mais na vida.
Quando me encontrar, converse comigo sobre qualquer assunto, só não me fale em rampa, por favor!
Comments