Por Antonio Silva e Bruna Berghan
Eles estão em todos os lugares e nem mesmo as dificuldades engrentadas parecem pará-los. Eles estão em todos os setores da sociedade, nas escolas, universidades, nas redes sociais, no esporte, ne mídia, na política. Ocupando espaços, derrubando preconceitos, além de também representando uma classe: as pessoas com deficiência.
Ter uma deficiência já foi sinônimo de isolamento, solidão e, por vezes, motivo de vergonha, mas as coisas mudaram graças ao acesso à informação e promoção de políticas públicas. As pessoas com deficiência ganharam seu espaço na sociedade, e principalmente, conquistaram direitos de fazer qualquer coisa que desejarem.
Imagine que você é um jovem, bonito, saudável, esportista, e que sai para um passeio de ônibus e sofre um acidente e de repente vê a vida mudar, pois no acidente você perde parte da perna direita, o que parece um roteiro de filme é, a história de vida de Willy Acker Schuch, de 24 anos, da cidade de Santa Maria do Herval, na Encosta da Serra.
Em um passeio da escola, Willy foi arremessado para fora do ônibus. Devido à gravidade do acidente ele teve que amputar a perna direita "Sofri um acidente de ônibus, aos 17 anos, voei para fora do ônibus".
O processo de recuperação desse tipo de acidente, por vezes, é lento e doloroso, mas no caso de Willy (imagem à esquerda, onde o atleta está na raia de atletismo), o apoio da da família, dos amigos, dos esportes foram fundamentais "É um processo que exige bastante esforço". A recuperação também foi rápida, em caso de amputação é natural que a caminhada com a prótese inicie entre seis a nove meses de recuperação, no caso de Willy foi bem diferente "A caminhada o normal é inicias entre seis e nove meses de recuperação, eu comecei com três, e logo parti para os esportes de alto rendimento." Completa.
Em casos como o de Willy, é quase natural passar por um período de dificuldades, porém, esse não foi o caso dele "não cheguei a passar por um período de depressão"e muito disso deve-se a prática esportiva, por Willy que já praticava esportes antes do acidente viu neles a saída para uma recuperação melhor "já praticava esportes antes do acidente, mas não de alto rendimento.", explica. E foi na natação e no atletismo que ele se encontrou, pois foi através deles que acelerou sua recuperação e descobriu um novo estilo de vida.
"É um processo que exige bastante esforço, tive apoio da família e dos amigos."
Willy Acker Schuch
Mesmo quando as questões financeiras não ajudavam, Willy buscou no esporte a força para superar os próprios limites. Ele viveu a dificuldade que muitos amputados vivem, (de conseguir uma prótese), pois o processo é longo, sem falar no custo que fica entre R$ 30 a 120 mil reias.
Outra barreira a ser enfrentada é o preconceito, mas esse ponto, Willy tirou de letra, segundo ele, nunca passou por preconceito, às vezes, é o contrário. "As pessoas me veem caminhando com a prótese e acham curioso e tal", comenta.
Em relação à Universidade Feevale, Willy diz que em termos de acessibilidade para ele, está tudo certo, pois poucas são suas necessidades no campus.
Caminhando com Bruna
Essa também é a opinião da estudante de psicologia, Bruna Kroth, 25 anos, ela comenta "é muito boa a estrutura Feevale". Bruna teve que amputar as duas pernas devdo a uma doença "a minha deficiência é adquirida, ocorreu com dois anos, tive meningite com vasculite que causou amputação" conta.
Assim como Willy, Bruna (foto à esquerda, em que ela está em sua cadeira de rodas) não se deixou abater pelas dificuldades e sempre buscou ter uma vida como qualquer outra pessoa, para isso sempre contou com o apoio da família, mas especificamente da mãe que dedicou a vida aos cuidados da filha. Segundo Bruna as limitações nunca a impediram de fazer nada. "Nunca deixei que a deficiência limitasse minha vida" comenta. Para ela um dos momentos mais difíceis foi quando era criança "foi difícil a questão da caminhada. Eu queria caminhar e não conseguia" explica.
Assim como todos os deficientes, Bruna sempre lutou contra o preconceito, mas isso jamais abalou a vida da acadêmica de psicologia, que buscou superar e provar para as pessoas que uma limitação não define quem somos "Até hoje enfrento muito preconceito, o olhar das pessoas me rotulam" para Bruna o preconceito é, uma questão cultural, "o preconceito está na nossa sociedade" afirma.
Mesmo com a independência o sonho de voltar a andar está presente na vida de Bruna (foto à direita, onde posa ao lado de sua cadeira), mas a dificuldade em conseguir as próteses vem impedindo que esse sonhos se realize. Para tentar realizar o sonho, com a ajuda dos amigos e da família, Bruna organizou uma campanha no site vakinha.com chamada "Caminhando com a Bruna" para arrecadar o valor de R$ 60 mil para aquisição das próteses. O valor foi arrecadado, porém, após uma nova avaliação médica, Bruna descobriu que precisa de próteses com joelhos computadorizados, com isso o valos arrecadado não é suficiente.
"pretendo me formar, casar, ter filhos, me especializar e principalmente voltar a andar."
Bruna Kroth
A busca pelo sonho de voltar a andar possibilitou à Bruna realizar outros sonhos, como conhecer seu ídolo Renato Portaluppi. Foi durante a divulgação da campanha chamada "Caminhando com a Bruna", quando também recebeu ajuda da RBS TV "A ajuda da RBS, contribuiu muito na divulgação da campanha" e sobre conhecer o Renato foi muito bom, era meu sonho conhecer ele", completa.
Nem todas essas dificuldades impedem Bruna de sonhar, pois os planos para o futuro são muitos. "Pretendo me formar, casar, ter filhos, me especializar e principalmente voltar a andar" ela finaliza.
Assim como Bruna, Willy também luta por seus sonhos: formar-se em direito e seguir carreira de atleta. Eles são apenas dois exemplos de inclusão e principalmente de força de vontade na busca por seus objetivos.
A conquista e garantia de direitos abriu muitas portas possibilitando às pessoas com deficiências o acesso à diversos serviços e também a direitos básicos como o da educação, saúde, lazer, esporte. Mas, principalmente, garantiu o direito à cidadania, à liberdade e a possibilidade de realizar sonhos.
Núcleo que pensa acessibilidade
Segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último censo realizado no ano de 2010, o Brasil possui 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Isso corresponde a 23,9% da população do país. Através do censo também foi possível descobrir quais as deficiências predominantes no território brasileiro. A lista começa com a deficiência visual com 18%, logo vem às deficiências motoras com 7%, há deficiência auditiva vem após com5,1% e fechando a lista as deficiências mentais e intelectuais com 1,4%.
No Rio Grande do Sul, estima-se que 23% da população tenha alguma deficiência, ou seja, 2,6 milhões de pessoas. De fato os números no país de forma geral e no estado apresentam uma grande quantidade de pessoas com alguma deficiência, mesmo assim durante muito tempo essas pessoas não tinham voz ativa ou representação a sociedade.
Mesmo com um percentual considerável da população com algum tipo de deficiência, apenas há pouco tempo pautas como acessibilidade, inclusão e espaço no mercado de trabalho ganharam espaço nos debates. Com isso, os deficientes conquistaram o direito de ter um trabalho, as cidades têm investido em acessibilidade, e também na criação de políticas públicas para as pessoas com deficiência, garantindo o acesso.
Para que essas e outras reinvindicações se tornem realidade é fundamental a participação das pessoas com deficiência na sociedade, e uma das formas é a participação delas nos conselhos municipais da pessoa com deficiência. Nas cidades do Vale do Sinos 100% das cidades possuem o conselho da pessoa com deficiência, porém, nem todos são atuantes. Os conselhos são a porta de entrada para a discussão e garantias de direitos, além de um espaço de discussão e conhecimentos sobre as diversas deficiências que estão presentes nas comunidades.
Para que tudo issose tornasse realidade, o acesso à educação foi fundamental. Segundo o IBGE, 6,7% das pessoas com deficiências no Brasil, possuem ensino superior completo. Já na região Sul esse índice sobe para 6,8% da população total com deficiência possui nível superior completo. Isso se deve muito a possibilidade e condições de acesso a universidade, principalmente no que se refere às questões de acessibilidade.
E nesse ponto a Universidade Feevale é referência em acessibilidade e inclusão de alunos com deficiência. Além de possuir acessibilidade em todo o campus, muitos desses alunos passam também a seres funcionários da instituição. Atualmente a Universidade conta com 174 alunos com algum tipo de deficiência, que vão desde a deficiência física alunos que usam cadeira de rodas ou tem mobilidade reduzida, surdez total que fazem uso e interprete, deficiência auditiva que fazem uso de aparelho, deficiência visual, condutas típicas, deficiências múltiplas, deficiência intelectual e alunos com dificuldade de aprendizagem.
Com tantas deficiências diferentes e complexas o desafio da universidade é construir maneiras pelas quais todos os alunos se sintam incluídos, e principalmente tenham condições de realizar as tarefas de sala de aula.
Para isso, foi criado na Universidade Feevale o Núcelo de Acessibilidade e Permanência (NUAP), para entender mais sobre o trabalho do NUAP, conversamos com a coordenadora Jozilda Fogaça (foto à esquerda), que contou sobre o surgimento do núcleo e o trabalho desenvolvido por ele.
O NUAP surgiu como um núcleo de pedagogia universitária e aos poucos foi se tornando um espaço para discussão sobre acessibilidade, como explica Jozilda "ele era o Núcleo de Pedagogia Universitária e foi desmembrado tomando corpo sozinho, quando a gente começou a organizar a inclusão e acessibilidade dentro da universidade nesse escopo que a gente tem hoje". Comenta.
No núcleo são desenvolvidas diversas atividades como todo o acompanhamento do aluno e adaptação dos locais desde o vestibular, além disso, são atendidos também todos os alunos com dificuldade de aprendizagem, auxilia na organização dos estudos, mas, segundo ela "o foco principal do NUAP, é garantir acessibilidade no campus". Explica.
Todo o levantamento das necessidades de adaptação é feito via sistema, pois no momento em que o aluno se anuncia com deficiência na hora da inscrição no vestibular, já vai sendo pensado quais serão as necessidades dele. Hoje o NUAP oferece como recursos aos alunos grande parte do campus coberta com piso tátil, braile nas escadas para a localização, TV para trabalhos ampliados, impressora em braile, interpretes e adaptação de materiais. De acordo com Jozilda "a Universidade Feevale busca excelência em todas as áreas, e também em acessibilidade". Afirma. Segundo ela o NUAP vem trabalhando para que todo o campus seja acessível dando maior autonomia possível aos alunos.
Mais do que promover a acessibilidade e condições de estudo, ter pessoas com deficiências na universidade é garantia de boas histórias de vida e de reencontros.
Seja na universidade, na escola, na rua, no ônibus, nas redes sociais, nas empresas, no esporte, as pessoas com deficiência movimentam-se e quebram as barreiras estruturias e sociais. É preciso vencer mais do que degraus, calçadas irregulares ou barreiras arquitetônica, pois o maior movimento dessas pessoas é contra o preconceito e principalmente pela inclusão e conquista de seus direitos e cidadania.
Reportagem originalmente publicada na edicão 4 da Revista Nós, ano 2017/02 publicação do curso de Jornalismo da Universidade Feevale.
Comments